segunda-feira, 14 de abril de 2008

“A (ir)responsabilidade do pasto"REI"o no crescimento da Igreja” (por Alexberestinas)

O crescimento de Igreja têm sido um dos temas muito em evidência tanto no meio teológico, quanto no meio dos leigos cristãos de um modo geral, todos acreditam e defendem o ponto de que uma Igreja sadia deve e foi instituída para crescer, mas muitos não concordam entre si quanto à maneira como deve ocorrer esse desenvolvimento. Com certeza, dentre esses questionadores e pensadores, que demandam grande energia para que esse desenvolvimento ocorra está a figura do Pastor.

Peterson (2004) nos mostra como a palavra “Pastor” costumava ser um substantivo sólido em que não era necessário o acréscimo de adjetivos, apenas a palavra em si já tinha um grande peso e significado, mas hoje em dia a Igreja moderna tem se transformando em um negócio, numa empresa, um “reino”. O pastor tem se transformado em um rei, em um executivo que luta para manter-se no mercado, se esforça para manter o status de empreendedor e esta é, talvez, uma das mudanças mais significativas e sérias que estamos atravessando como Igreja, transformações que tem instigado e motivado antigas e novas gerações de pastores a saírem de sua zona de conforto, destronarem seus egos e voltarem ao foco do verdadeiro significado de pastoreio que Jesus Cristo nos deixou como herança.

Executivos eclesiásticos, sinônimos de pastor encontrado hoje em dia em muitas Igrejas. Verdadeiros empresários circulando com agendas eletrônicas, telefones celulares, secretárias, auxiliares e assistentes, para atender a um volume cada vez maior de reuniões, entrevistas, conferências, aconselhamentos, dentre muitos outros cargos e funções. Essa idéia e essência são completamente diferentes, onde Peterson (2004) compartilha que a função pastoral é uma vocação para curar almas, não somente dirigir uma Igreja, que também tem sua importância, mas guiar almas a uma vida de oração e devoção a Deus. A palavra cura em latim é "cuidado", tendendo à recuperação, e essa é a essência do trabalho dos pastores em todo o seu tempo.

O estado de ser e estar ocupado tornou-se um símbolo de “poder”, de “status" e sucesso tanto no mundo secular como no religioso. Ter uma agenda repleta de compromissos é sinal de competência; de responsabilidade, de ter “café no bule”, afinal, ninguém considera um dentista competente em sua função, cuja sala de espera do consultório encontra-se absolutamente vazia, e ele, confortável e despreocupadamente sentado em sua cadeira lendo um bom jornal. Assim, abriu-se espaço para os pastores “monárquicos”, muitos vítimas de seu contexto e sua inocência, que hoje até entendem sua condição e seus corações ardem por uma mudança e transformação, mas devido há anos e anos a fio de centralização de ações em sua pessoa, não conseguem mais voltar atrás, sem que sua pessoa e função de pastor sejam contestada pelo seu hall de ovelhas e muitas vezes lobos.

Com certeza, mesmo diante dessa tendência e mudança do conceito pastoral, o foco continua sendo em ovelhas, em pessoas. As pessoas são e sempre serão o grande objetivo, atrair pessoas para o Reino de Jesus ou atrair pessoas para a “reino” dos homens. Hybels (2004) demonstra com impacto a paixão que muitos homens e mulheres possuem por servir às pessoas. Ele resgata o significado da palavra serviço, que hoje é deturpada a trabalhos e cargos que erroneamente chamamos de “insignificantes”. O trono tem sido o maior objetivo de muitos pastores que não entenderam que Jesus nos trouxe o ministério da “Água e da Bacia”, que o lavar dos pés do mais pequenino homem, de servi-lo como servir a Deus é maior do que governar e ser servido por nações.

Igrejas lotadas de almas desesperadas por vida tem sido o local onde esses pastores reinam, não há relacionamento, não há um lugar seguro, o conceito de que a comunidade cristã, que igreja de Cristo tem sido o berço dos piores traumas de muitos tem se estendido a proporções alarmantes. Verdadeiros “calos espirituais” têm contribuído para que a função terapêutica da Igreja não seja sentida em toda a sua plenitude, estamos sem esperança e não lembramos que apesar do caminhão de traumas e tristezas, a Igreja possui uma frota de bênçãos.

A comunidade clama por pastores que abram seus corações, que não colocam para debaixo do tapete suas deformidades morais, mas a expõe em seus piores momentos, que não se preocupam em resolver questões, em demonstrar fórmulas ou cinco passos para que determinada dificuldade ou pecado seja minimizado ou finalizado. Ou seja, procuram mentores e amigos de alma que olhem diretamente para dentro de nós e consigam achar, com a ajuda do Espírito Santo, o homem que gostaríamos de ser e nos auxiliam a dar vida a esse homem, a obtermos o verdadeiro crescimento.

O grande problema, se é que isso pode ser considerado de problema, é que esse caminhar, esse derramar de vida demanda tempo, energia, demanda menos tempo para dirigir e administrar a Igreja. A Igreja entre os domingos deverá ser mais focada do que o culto “espetáculo”, que em nossos dias, “atrai” mais pessoas para o “reino”, deixando de crescer.

A compreensão do que é crescer numericamente falando, tem sido no geral tratada de maneira errada. Fala-se muito, porém pouco é compreendido em sua plenitude. Jesus se preocupou com a qualidade de tempo investida em seus discípulos e com as pessoas que se encontrava, seu foco era crescer, era realizar o que seu Pai o mandava, que era resgatar vidas e fazer mais discípulos para o seu Reino, todo crescimento obtido por Jesus foi uma conseqüência de pastorear no verdadeiro sentido as vidas o Pai lhe mostrava. A medida que o Evangelho era pregado era cumprida a promessa de que a Igreja se multiplicaria. Toda multiplicação foi uma resposta à vida de Jesus e não um fim em si mesmo.

Diferente de Jesus, muitos pastores e líderes de Igreja passaram a acreditar que o melhor caminho para atrair e aumentar sua Igreja é tocar em tópicos chaves que as pessoas desejam, todo o foco é voltado para o “ter”, não para o “ser”. A preocupação é mudar tudo e todos que estão a minha volta, o “eu” não é tocado, não há dor, não há quebrar de princípios, não há fases de transição e nem crises, a mudança não esta de dentro para fora, mas no que eu posso alterar fora de mim para que eu sempre seja feliz e realizado.

Um dos grandes problemas do crescimento de igreja esta no fato de que muitos pastores supervalorizam os modelos de igrejas que crescem. Desta forma muitos deles repassam suas “fórmulas de crescimento” como sendo um princípio universal válido e correto para qualquer igreja ou situação. Assim, ocorre uma corrida desenfreada para copiar modelos e “passos” para conseguir uma Igreja com muitos membros. A questão a ser tratada no presente momento não esta em martirizar ou não uma Igreja com grande quantidade de membros ou pouca quantidade, mas sim em verificar como e em prol de que isso é realizado, ou seja, o contexto e a situação de cada Igreja determinará o caminho a ser seguido, isso é relativo, mas a vida e responsabilidade do Pastor é uma só, não há barganha, somente uma opção é dada por Deus, de seguir os passos e carregar a cruz que Seu Filho Jesus carregou.

Weber (2006) foi muito feliz em comparar uma árvore com duas pessoas que andam juntas, que são amigas, que investem tempo uma na outra. O mesmo princípio pode ser aplicado às Igrejas. Elas têm crescido como “ervas”, possuem grande quantidade de membros e congregações, mas crescem pouco como organismo, sua raiz é pequena, é facilmente arrancada e pisoteada, ao contrário de uma sequóia. Uma árvore desse porte demora muitos anos para crescer, sua raiz penetra fundo na terra e em todas as direções, o crescimento é bem lento e consome muita energia da planta, mas o resultado final é maravilhoso, uma árvore assim dificilmente é derrubada pelo vento, é forte, deslumbrante, atrai inúmeros animais para habitarem e se refugiarem nela, inclusive pessoas para se deleitarem em sua sombra. Como uma sequóia, como um carvalho, esse é o alvo que devemos ter como sacerdotes reais, o preço é alto, o tempo é elevado, mas os frutos disso são inumeráveis.

O Pastor sempre exerceu, exerce e continuará exercendo, devido a sua vocação e comissionamento, influência no crescimento da Igreja de Jesus cristo, e esse crescimento não pode e nem deve ser visto somente como quantitativo ou numérico. Crescer acima de tudo, não é crescer somente numericamente, mas é desenvolver e contribuir para que o caráter cristão seja formado, através de uma renovação da mente, de uma santificação constante, de um derramar de vida, buscando aproximar-se de Deus.

Que os pastores possam atrais mais pessoas para o Reino pelo que são e tem procurado viver. Que seus “galhos”, suas “sombras”, possam ser usadas para refrescar vidas, para dar abrigo e facilitar o que Deus deseja realizar. Para o Reino de Deus a matemática é diferente, nem sempre a Igreja mais numerosa é a que tem mais quantidade de “Vida”.
Chega de "Venha a nós o MEU reino"