Ontem encontrei um presente que ganhei em Florianópolis no dia 11/12/2006.
Uma poesia!!!
Presente de um amigo passageiro que se intitulava "Paulo Poeta".
Mais uma das lindas flores que Deus me presenteia através de pessoas que muitas vezes não dou o devido valor.
A um amigo
Foi num desses momentos
Em que a tristeza
Batia na porta
E uma voz me dizia "desista"
Que conheci este jovem batista
Através de suas atitudes
Reavivou-me a fé
Fazendo-me crer
Que quando tudo parece perdido
Deus providência um "Alê"
Agora com mais
Esperança prossigo
Pois quando mais precisava
Deus me deu este Amigo
Paulo Poeta
Florianópolis/SC, 11/12/2006
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Que dizer (Por Tuco Egg)
Como é que eu vou explicar
Pro menino no berço de palha
Que Natal agora é consumo
E nada mais que o valha
Como vou contar para os anjos
Pros pastores que ouviram louvores
Que o Natal transubstanciou-se
Numa festa de fartos horrores
Que dizer aos reis do oriente
Aqueles magos d'astronomia
Que fizeram-se de retirantes
Loucos atrás de uma estrela guia
Adornai-vos de luxos e ouros
Da mais alta tecnologia
Afogai-vos em seus crediários
Que é chegado tão grandioso dia
Lambuzai-vos em farto banquete
Até a derradeira migalha
Entoando os mais altos louvores
Ao menino no berço de palha
http://atrilha.blogspot.com.br/2012/12/que-dizer.html
terça-feira, 30 de outubro de 2012
"O Pastor herege" Por Gerson Freitas Jr. (Carta Capital)
“Deus
nos livre de um Brasil evangélico”, diz o religioso Ricardo Gondim,
crítico dos movimentos neopentecostais. Por Gerson Freitas Jr. Foto:
Olga Vlahou
“Deus nos livre de um Brasil evangélico.” Quem afirma é um pastor, o
cearense Ricardo Gondim. Segundo ele, o movimento neopentecostal se
expande com um projeto de poder e imposição de valores, mas em seu
crescimento estão as raízes da própria decadência. Os evangélicos, diz
Gondim, absorvem cada vez mais elementos do perfil religioso típico dos
brasileiros, embora tendam a recrudescer em questões como o aborto e os
direitos homossexuais. Aos 57 anos, pastor há 34, Gondim é líder da
Igreja Betesda e mestre em teologia pela Universidade Metodista. E
tornou-se um dos mais populares críticos do mainstream evangélico, o que
o transformou em alvo. “Sou o herege da vez”, diz na entrevista a
seguir.
CartaCapital: Os evangélicos tiveram papel
importante nas últimas eleições. O Brasil está se tornando um país mais
influenciável pelo discurso desse movimento?
Ricardo Gondim: Sim, mesmo porque, é notório o
crescimento do número de evangélicos. Mas é importante fazer uma
ponderação qualitativa. Quanto mais cresce, mais o movimento evangélico
também se deixa influenciar. O rigor doutrinário e os valores típicos
dos pequenos grupos se dispersam, e os evangélicos ficam mais próximos
do perfil religioso típico do brasileiro.
CC: Como o senhor define esse perfil?
RG: Extremamente eclético e ecumênico. Pela primeira
vez, temos evangélicos que pertencem também a comunidades católicas ou
espíritas. Já se fala em um “evangelicalismo popular”, nos moldes do
catolicismo popular, e em evangélicos não praticantes, o que não existia
até pouco tempo atrás. O movimento cresce, mas perde força. E por isso
tem de eleger alguns temas que lhe assegurem uma identidade. Nos Estados
Unidos, a igreja se apega a três assuntos: aborto, homossexualidade e a
influência islâmica no mundo. No Brasil, não é diferente. Existe um
conservadorismo extremo nessas áreas, mas um relaxamento em outras. Há
aberrações éticas enormes.
CC: O senhor escreveu um artigo intitulado “Deus nos Livre de um Brasil Evangélico”. Por que um pastor evangélico afirma isso?
RG: Porque esse projeto impõe não só a
espiritualidade, mas toda a cultura, estética e cosmovisão do mundo
evangélico, o que não é de nenhum modo desejável. Seria a talebanização
do Brasil. Precisamos da diversidade cultural e religiosa. O movimento
evangélico se expande com a proposta de ser a maioria, para poder cada
vez mais definir o rumo das eleições e, quem sabe, escolher o presidente
da República. Isso fica muito claro no projeto da Igreja Universal. O
objetivo de ter o pastor no Congresso, nas instâncias de poder, é o de
facilitar a expansão da igreja. E, nesse sentido, o movimento é
maquiavélico. Se é para salvar o Brasil da perdição, os fins justificam
os meios.
CC: O movimento americano é a grande inspiração para os evangélicos no Brasil?
RG: O movimento brasileiro é filho direto do
fundamentalismo norte-americano. Os Estados Unidos exportam seu american
way oflife de várias maneiras, e a igreja evangélica é uma das
principais. As lideranças daqui leem basicamente os autores
norte-americanos e neles buscam toda a sua espiritualidade, teologia e
normatização comportamental. A igreja americana é pragmática, gerencial,
o que é muito próprio daquela cultura. Funciona como uma agência
prestadora de serviços religiosos, de cura, libertação, prosperidade
financeira. Em um país como o Brasil, onde quase todos nascem católicos,
a igreja evangélica precisa ser extremamente ágil, pragmática e
oferecer resultados para se impor. É uma lógica individualista e
antiética. Um ensino muito comum nas igrejas é a de que Deus abre portas
de emprego para os fiéis. Eu ensino minha comunidade a se desvincular
dessa linguagem. Nós nos revoltamos quando ouvimos que algum político
abriu uma porta para o apadrinhado. Por que seria diferente com Deus?
CC: O senhor afirma que a igreja evangélica brasileira está em decadência, mas o movimento continua a crescer.
RG: Uma igreja que, para se sustentar, precisa de
campanhas cada vez mais mirabolantes, um discurso cada vez mais
histriônico e promessas cada vez mais absurdas está em decadência. Se
para ter a sua adesão eu preciso apelar a valores cada vez mais
primitivos e sensoriais e produzir o medo do mundo mágico,
transcendental, então a minha mensagem está fragilizada.
CC: Pode-se dizer o mesmo do movimento norte-americano?
RG: Muitos dizem que sim, apesar dos números. Há um
entusiasmo crescente dos mesmos, mas uma rejeição cada vez maior dos que
estão de fora. Hoje, nos Estados Unidos, uma pessoa que não tenha sido
criada no meio e que tenha um mínimo de senso crítico nunca vai se
aproximar dessa igreja, associada ao Bush, à intolerância em todos os
sentidos, ao Tea Party, à guerra.
CC: O senhor é a favor da união civil entre homossexuais?
RG: Sou a favor. O Brasil é um país laico. Minhas
convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de
outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a
partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por
relacionamentos juridicamente estáveis. A nação tem de considerar essa
demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações
homossensuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a
promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não
tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade.
CC: O senhor enfrenta muita oposição de seus pares?
RG: Muita! Fui eleito o herege da vez. Entre outras
coisas, porque advogo a tese de que a teologia de um Deus títere,
controlador da história, não cabe mais. Pode ter cabido na era medieval,
mas não hoje. O Deus em que creio não controla, mas ama. É incompatível
a existência de um Deus controlador com a liberdade humana. Se Deus é
bom e onipotente, e coisas ruins acontecem, então há algo errado com
esse pressuposto. Minha resposta é que Deus não está no controle. A
favela, o córrego poluído, a tragédia, a guerra, não têm nada a ver com
Deus. Concordo muito com Simone Weil, uma judia convertida ao
catolicismo durante a Segunda Guerra Mundial, quando diz que o mundo só é
possível pela ausência de Deus. Vivemos como se Deus não existisse,
porque só assim nos tornamos cidadãos responsáveis, nos humanizamos,
lutamos pela vida, pelo bem. A visão de Deus como um pai todo-poderoso,
que vai me proteger, poupar, socorrer e abrir portas é infantilizadora
da vida.
CC: Mas os movimentos cristãos foram sempre na direção oposta.
RG: Não necessariamente. Para alguns autores, a
decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma
decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e
cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos
direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.
27.04.2011 08:48
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-pastor-herege/
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Eu tenho ideias e razões (Fernando Pessoa)
"Eu tenho ideias e razões,
Conheço a cor dos argumentos
E nunca chego aos corações."
Fernando Pessoa, 1932
Conheço a cor dos argumentos
E nunca chego aos corações."
Fernando Pessoa, 1932
http://www.jornaldepoesia.jor.br/fpessoa87.html
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Para não dizer que não falei das flores (Ed René Kivitz)
Não se preocupem com o que comer, beber ou vestir, mas busquem em
primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas
vos serão acrescentadas. Esta recomendação de Jesus aos discípulos é
geralmente interpretada como uma declaração de Deus prometendo que os
que cristãos fiéis jamais passarão fome, sede ou frio, isto é, terão
suas necessidades físicas e materiais absolutamente supridas. Mas parece
que não é só isso.
Não foram poucos os cristãos que ao longo da história sofreram
privações extremas, alguns deles justamente porque buscaram o reino de
Deus e sua justiça em primeiro lugar. Ainda hoje, temos à nossa volta
centenas de milhares de cristãos vivendo na pobreza, em condições
desumanas. Muitos são perseguidos e mortos por sua fidelidade a Jesus e
ao reino de Deus. Será que todos são infiéis? Será que Deus se esqueceu
ou desistiu de cuidar deles? Há algo errado com Deus, com os nossos
irmãos, ou com a maneira como interpretamos a promessa de Jesus? Prefiro
a terceira hipótese.
Jesus quis dizer pelo menos três coisas com sua palavra a respeito da
primazia do reino de Deus. Primeiro, deixou claro que, caso viessemos a
passar por privações, não faria sentido imaginarmos que Deus se
esqueceu de nós, pois se Ele cuida das flores e dos passarinhos, como
deixaria de cuidar dos seus filhos? A privação se explica por outro
motivo que não o abandono ou descuido de Deus. Em segundo lugar, Jesus
quis deixar claro que os cristãos não mais se preocupam com comida,
bebida e roupas, mas com o reino de Deus. Na verdade, Jesus disse que
deveríamos escolher viver para o nosso reino ou o reino de Deus.
Finalmente, Jesus quis dizer que Deus jamais sonegaria todas as
coisas necessárias para a sobrevivência dos seus filhos. Acontece que a
promessa não é para cada cristão individualmente, mas para os cristãos
como corpo, como família, como unidade espiritual, de modo que o não
passar privações depende da capacidade da comunidade dos discípulos
repartir tudo quanto já recebeu de Deus. O fato de um cristão passar por
privação não diz nada a respeito de Deus, mas tudo a respeito da
comunidade cristã. Entre os discípulos de Jesus “ninguém considera seu o
que possui”, de modo que “quem colhe demais não tem sobrando e quem
colhe de menos não tem faltando”, e nesse caso, quando um cristão passa
fome, a comunidade está em débito.
A questão é a seguinte: quanto mais vivemos determinados pelo
conforto material, mais indiferentes seremos às necessidades dos outros.
Quanto mais vivemos para o reino de Deus e sua justiça, menos privações
haverá ao nosso redor. Resta saber como queremos viver: preocupados com
comer, beber e vestir, ou dedicados a promover a justiça do reino de
Deus.
http://edrenekivitz.com/blog/2012/09/para-nao-dizer-nao-falei-das-flores/
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Não quero ser feliz (Ricardo Gondim)
Desisto, não quero mais ser feliz. Procurei a felicidade como um
caçador de borboletas. Armado de redes e binóculos, percorri florestas e
cavernas buscando prender minha libélula, mas acabei frustrado: ela
sempre voava para mais longe de mim.
Desisto, não quero mais ser feliz. Agora, vou contentar-me em
perseguir a justiça. Tocarei minha vida advogando o direito dos meninos
de jogarem pedras em mangueiras e de nadarem em lagoas. Conformado com
minha sorte, protegerei as meninas que brincam de pular corda; elas
nunca deveriam precisar ganhar dinheiro para alimentar a família.
Desisto, não quero mais ser feliz. Vou escancarar as portas do meu
coração para a dor de mães que choram por seus filhos drogados; não
evitarei os esquálidos que morrem de Aids; não virarei meu rosto para
velhinhos que pedem esmolas nos sinais de trânsito. Não desejo continuar
cavando os fossos que me isolam em meu castelo de desejos.
Desisto, não quero mais ser feliz. Não perseguirei a amizade de gente
famosa que, por tanto tempo, acreditei capaz de me fazer sentir
importante. Resignado, procurarei novos amigos. Aceitarei andar ao lado
dos simples, e de conviver com os humildes. Quero aprender a conversar
despretensiosamente.
Desisto, não quero mais ser feliz. Abrirei mão de meus grandes
projetos. Lutei para conquistar objetivos irrealizáveis. Imaginei que
minhas metas se tornariam fontes de alegrias infinitas. Resignado,
desejo viver cada vão momento como sagrado. Transformarei meu almoço
numa liturgia; celebrarei meus encontros solenemente; e cantarei minhas
músicas prediletas como hinos de agradecimento à vida.
Desisto, não quero mais ser feliz. Cansei de defender minha honra,
reputação e posicionamentos – todos, políticos, espirituais e
filosóficos. Abdico de estar certo. De agora em diante, confessarei
abertamente minhas incertezas. Não rolarei na cama, insone com a opinião
de pessoas que desconheço; não retrucarei, quando me sentir atingido.
Estou disposto a aprender o significado daquela declaração divina: “quem
quiser ganhar sua vida a perderá e quem perder sua vida a ganhará”.
Desisto, não quero mais ser feliz. Não tentarei segurar o amor de
quem amo. Deixarei que cada um acerte seu caminho; arriscarei viver com
gratuidade. Preciso acreditar que ninguém me deve coisa alguma. Vou
aventurar-me fazer o bem, e não cobrar nada em troca.
Já que desisti de ser feliz, resta-me seguir por esses caminhos incertos.
Prometo avisar se algum dia a felicidade pousar em meu ombro.
Soli Deo Gloria.
http://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/nao-quero-ser-feliz/
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Caio Marçal (Blog do Fale)
Estamos numa época realmente
importante da vida política brasileira, pois chegou o tempo das
eleições municipais. Sim, embora política não seja algo que se faça
apenas em época de pleito eleitoral, apesar dos escândalos envolvendo
autoridades escolhidas para gerirem o estado terem causado nojo e
fomentado o desejo de grande parte de nossa gente a querer distância
desse tema, apesar de tudo isso, cremos que a conquista do voto num país
que por algumas vezes viveu longos períodos de ditadura, deve ser visto
como uma avanço para nosso país.
Com o apoio da Rede FALE (cristãos que oram e agem em favor da
Justiça), o grupo do Fale RJ começou a campanha “FALE contra o Voto de
Cajado”, que tem como foco sensibilizar os cristãos quanto ao mau uso
que alguns líderes religiosos fazem de suas funções para favorecer
determinado candidato ou partido.
Agora, por que estamos realmente preocupados com isso? Será que não é
perda de tempo fazer esse debate e simplesmente deixar “o circo pegar
fogo”? Como cristãos e eleitores, enumeramos algumas questões que são
necessárias para reflexão:
1 – Fé não se vende e não se negocia
A realidade é que estamos numa época(assim como em outros momentos) em que existem pactos espúrios com partidos ou candidatos para conseguir benefícios para igrejas ou denominações, como, por exemplo, a doação de terrenos para templos, obter concessões de rádios e TVs ou mesmo ter tratamento diferenciado perante a lei.
A realidade é que estamos numa época(assim como em outros momentos) em que existem pactos espúrios com partidos ou candidatos para conseguir benefícios para igrejas ou denominações, como, por exemplo, a doação de terrenos para templos, obter concessões de rádios e TVs ou mesmo ter tratamento diferenciado perante a lei.
Esses são apenas alguns tipos de barganha, “acertos”, acordos e
composições de interesse que infelizmente costumam acontecer “por trás
dos púlpitos” em tempos de campanhas eleitorais, envolvendo também
políticos e candidatos evangélicos. A fé é sagrada! Não pode ser tratada
como moeda para conseguir vantagens. É lamentável que a sede de poder e
dominação, que tem contornos diabólicos, sejam ainda hoje uma tentação
para muitos. O papel da Igreja na sociedade não é servir-se do estado,
mas zelar para ser a consciência da sociedade e como bem disse o Pastor
Batista Martin Luther King, “A igreja… não é a senhora ou a serva do
Estado, mas, antes, a sua consciência… E nunca sua ferramenta!”.
Deus não precisa de precisa de apadrinhamento político para cumprir
seus propósitos na História e é Ele quem defende sua Igreja. A Igreja,
antes de desejar os tronos desse mundo, só reina pelo Serviço, na busca
da Justiça e pela propagação do Amor que encontramos nos braços
afetuosos do nosso Pai Eterno.
2 – Deus não tem partido e nem ideologia
Uma das verdades mais radicais sobre Deus é que Ele não é refém de uma ideologia ou partido, e a causa do Reino de Deus não pode ser instrumentalizada em favor de quem quer que seja. Tentar identificar a fé cristã com esse ou aquele partido ou ideologia é o “X” da questão. Os líderes religiosos jamais podem esquecer que com Deus não se brinca e que não o nome dEle não pode ser usado em vão! Deus, que não é manipulado por mãos humanas, não pode ser tratado como uma marionete de projetos de poder, ou para favorecer preferências políticas pessoais, por melhor que pareçam.
Uma das verdades mais radicais sobre Deus é que Ele não é refém de uma ideologia ou partido, e a causa do Reino de Deus não pode ser instrumentalizada em favor de quem quer que seja. Tentar identificar a fé cristã com esse ou aquele partido ou ideologia é o “X” da questão. Os líderes religiosos jamais podem esquecer que com Deus não se brinca e que não o nome dEle não pode ser usado em vão! Deus, que não é manipulado por mãos humanas, não pode ser tratado como uma marionete de projetos de poder, ou para favorecer preferências políticas pessoais, por melhor que pareçam.
O pastor pode participar da formação política de suas ovelhas? Sim!
Somos a favor que haja nas igrejas um processo comunitário de reflexão,
oração, e investigação de temas e os pastores e líderes devem se
empenhar para que os crentes votem com ética e discernimento. Porém, a
bem de sua credibilidade, o pastor deve evitar transformar o processo de
elucidação política num projeto de manipulação e indução
político-partidário. Ademais, no debate político-partidário, a opinião
do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não
como uma profecia, e a ética pastoral indica que ele não deve favorecer
sua inclinação pessoal em detrimento aos outros irmãos.
A pluralidade que hoje é marca da igreja evangélica nos convoca a que
não sejamos tutelados por posicionamentos de apoio a candidatos ou
partidos dentro da igreja, sob o prejuízo de não apenas constranger os
eleitores, mas causar divisão na comunidade de fé.
3- Que tipo de testemunho oferecemos para nosso povo?
O proceder fala muito mais do que nossa pregação. Se desejamos mesmo que nosso país seja transformado pelos valores do Reino de Deus, precisamos nos arrepender de certas posturas também no campo do debate político e perceber o estragos causados pela relação promíscua com o poder. O que dizer quando estes espalham boatos em relação a um político com a intenção de induzir os votos dos eleitores assombrados, na direção de um outro candidato com o qual estejam compromissados? O que falar de certos políticos que são ajudados pela prática do voto de cajado quando eles fazem a “oração da propina” ou das “sanguessugas evangélicas” que desviaram verbas públicas destinadas para a saúde do nosso povo?
O proceder fala muito mais do que nossa pregação. Se desejamos mesmo que nosso país seja transformado pelos valores do Reino de Deus, precisamos nos arrepender de certas posturas também no campo do debate político e perceber o estragos causados pela relação promíscua com o poder. O que dizer quando estes espalham boatos em relação a um político com a intenção de induzir os votos dos eleitores assombrados, na direção de um outro candidato com o qual estejam compromissados? O que falar de certos políticos que são ajudados pela prática do voto de cajado quando eles fazem a “oração da propina” ou das “sanguessugas evangélicas” que desviaram verbas públicas destinadas para a saúde do nosso povo?
Enfim, poderíamos citar ainda uma série de casos escabrosos que
deixaram nódoas na imagem pública da igreja, mas a questão essencial é
que esse tipo de prática frequentemente tem causado mau testemunho para
os não cristãos e não é incomum os evangélicos serem tratados como massa
de manobra por esses.
Nesse momento especial de nossa nação, cumpramos com integridade e
espírito público nossa vocação de cidadãos brasileiros. Para os nossos
irmãos de fé, nosso estímulo é:
“Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus”. Miquéias 6:8b
Caio Marçal – é missionário e Secretário de Mobilização da Rede FALE
http://redefale.blogspot.com.br/2012/08/por-que-somos-contra-o-voto-de-cajado.html
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Na frente do espelho (Ricardo Gondim)
No espelho, olhos nos olhos, reconheço três inimigos em minha alma.
Eu os encaro, mas sei: há tempo eles me espreitam desde as esquinas das
madrugadas insones. Crio coragem para chamar os três adversários pelo
nome: fracasso, impotência e culpa.
Fracasso é sentimento, não constatação. Não é necessária qualquer
derrota para alguém se sentir fracassado. Portanto, sentimento de
fracasso vem com o destreino de lidar com inadequações. Depois de
décadas absorvendo um discurso de perfeição, sofro desse sentimento. A
minha fraqueza parece maior do que realmente é. Sem ter acertado alvos, o
peso de incontáveis erros agride. Demandas religiosas, familiares ou
sociais deixam qualquer um arfando. A fadiga de ter que dissimular
inaptidões sulca rugas profundas.
Continuo calouro, desafino a melodia da vida. Piso na bola. Perco
belos gols a poucos metros da trave. Se me entrevistarem sobre
convicções, sei, vou gaguejar. Faço meu caminho, mas tropeço nos
cadarços soltos. Obrigado a ouvir todos os dias um discurso de
perfeição, arquejo. Não galguei os degraus da piedade.
Sobram pregadores da culpa, especialistas em conscientizar qualquer
um sobre as exigências divinas. Só agora entendo as pessoas que
frequentam alguma religião porque gostam de se constrangerem com suas
imperfeições.
Diante do espelho, despedaço o ícone que tentaram fazer de mim. Não
alimento o mito. Aconselho a alma a permanecer comum. Lembro a mim mesmo
que nenhuma máscara pode ficar grudada na cara quando eu estiver só.
Os anos passaram. Agora, mais do que nunca, vejo-me obrigado a
admitir impotência. E a me despir do desempenho dos ungidos – ainda não
aprendi a decretar milagre com a eficiência de muitos sacerdotes.
Depois de anos lidando com manifestações de poder espiritual, quero
fugir da tentação de encabrestar o próximo. Depois que falei, preguei e
ensinei tenho que admitir: os meus argumentos não passavam de discurso.
Para muitos, falhei em convencer.
Vai chegando ao fim a minha alucinação de inteligência. Que bobagem
imaginar-me genial. Nada me chegou fácil. Aprendi devagar. Continuo
esquecendo o que decoro. Saber muito nunca me ajudou na perspicácia. Fui
bronco na hora de antecipar incidentes. E não soube proteger as costas
das conspirações armadas para me destruir. Não intui o desenrolar dos
fatos mais cruéis.
Ensinaram que erros passados voltam como bumerangue. Eu sei: o
objetivo da ameaça é manter as pessoas boas. Mas, se transgredi a lei e
ofendi a Divindade, suspeito que alguns consideram a minha grave
punição. Também me ensinaram: “se a maldade dos outros for grande,
saiba, você é pior; quanto mais cabisbaixo você andar, maior será sua
disposição de penitenciar-se; e quanto maior a penitência, mais alegria
no céu”. Hoje desconfio desse discurso.
Depois que admito fracasso, impotência e culpa, faço as pazes comigo
mesmo na solidão do espelho. Pergunto sozinho: quem subiu o sarrafo tão
alto? De onde veio a possibilidade de controlar as variáveis da
existência? Qual o sentido terapêutico da culpa? Autocomiseração serve a
quais interesses?
Não preciso desempenhar para ser aceito – quem mente para si mesmo
nunca será livre. Não quero ser perfeito – despistar sentimento só
apequena a vida.
Ergo a cabeça. Meu valor não depende de cumprir roteiros alheios.
Pisoteio o sentimento de fracasso. Procuro desdenhar os acenos da
vaidade. Faço de tudo para transformar a culpa em aliada.
Soli Deo Gloria
http://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/na-frente-do-espelho/
terça-feira, 3 de julho de 2012
Espiritualidade egolátrica (Carlos Queiroz)
A egolatria não é o simples cuidado do indivíduo consigo mesmo. Cuidar
de si mesmo, afinal, é uma virtude. Quando praticamos o cuidado conosco
mesmos, aprendemos a amar mais as pessoas. A egolatria não é também um
sentimento de egoísmo. O indivíduo egoísta tem a expectativa de que
todas as coisas e pessoas estejam em torno de seus interesses. Sem
dúvida, isso é pecado; mas não é, ainda, um culto ao ego. Isso porque,
enquanto o egoísta deseja que todas as coisas existam para atender seus
interesses, o ególatra acredita que tem o poder para mover todas as
coisas e pessoas em torno de si. A principal marca do ególatra é a
cobiça, às vezes demonstrada por atitudes extremas. Tal sentimento foi
muito bem exemplificado na proposta do diabo a Cristo: “Tudo isso te
darei se, prostrado, me adorares.”
A egolatria é mais danosa do que a idolatria. E existe,
lamentavelmente, uma espiritualidade ególatra, aquela que é
caracterizada pela prática religiosa cujas celebrações e liturgias
favorecem a promoção de personalidades. Na idolatria, a divindade é
inanimada; o ídolo não controla a situação. Já na egolatria, o ego-deus
tem boca e fala; tem nariz e cheira; tem pés e anda. Ele tem uma
inteligência cheia de artimanhas; em geral, possui carisma e cativa as
massas. O ego-deus consegue passar a ideia de que foi o único
dotado para uma missão especial – assim, possuiria poderes especiais,
como uma capacidade mística de desvendar os mistérios escondidos no além
e trazer revelações sobrenaturais.
Nas instituições caracterizadas pela egolatria, há a necessidade de
intermediários entre os devotos e o divino. Por essa razão, os cargos e
papéis espirituais são uma espécie de concessão do ego-deus a esses intermediários, sob a condição de trocas simbólicas e materiais. Diante de um ego-deus,
todos os seguidores obedecem, sem o mínimo de discernimento. Qualquer
atitude crítica é denunciada como rebeldia intolerável. A egolatria é
marcada pela necessidade de promoção pessoal, vanglória e arrogância. Os
ególatras necessitam de títulos que os façam diferentes. Em se tratando
da vocação pessoal, os dons e ministérios não representam habilidades
para servir às pessoas; eles são, isso sim, títulos particulares,
espécie de insígnias ostentadas como demonstração de poder e domínio.
Nos ambientes marcados pela egolatria, títulos que, em si mesmos, em
nada credenciam seus detentores como sobre-humanos – como pastor, padre,
bispo, apóstolo –, assumem um significado de divinização de indivíduos
em seus feudos religiosos e redes de submissão ao seu controle.
Na espiritualidade ególatra, o sacerdote se confunde com a divindade. O
agente mágico e a divindade fundem-se numa só personalidade. Mas o ego-deus
é materialista, possessivo, vingativo; seu discurso não glorifica ao
único Deus, Senhor dos céus e da terra, mas favorece a própria
dominação, estimula a vassalagem dos seguidores e legitima a dinâmica do
poder. A legítima pregação bíblica é substituída por um discurso
caracterizado por frases-feitas e palavras de ordem supostamente capazes
de mover a mão divina, decretar a bênção e promover bem estar físico e
material aos adeptos – normalmente, em troca dos chamados sacrifícios,
quase sempre realizados através do dinheiro.
Se, numa determinada comunidade, as pessoas estão dando mais ênfase à
experiência espiritual que isola, discrimina os de fora e põe os
supostamente espiritualizados em pedestais, é bem provável que estejamos
diante da espiritualidade egolátrica, e não do modelo proposto por
Jesus Cristo. No Evangelho de Cristo, o que é aparentemente oculto é
revelado aos pequeninos do seu Reino. As boas novas “escondidas” em
Deus, de fato, estavam sempre presentes; todavia, os seres humanos
sofisticados não compreenderam a singeleza dessa mensagem: a de que aos
pobres e aos pequeninos é que foram reveladas as boas novas a respeito
do Reino de Deus (Lucas 10.18-19). As “revelações” recebidas pelos
poderosos dos empreendimentos religiosos não dizem respeito à mesma
revelação anunciada pelo Filho de Deus aos pobres e pequeninos.
É muito importante que saibamos discernir entre a espiritualidade
revelada por Jesus de Nazaré e aquela praticada nas ambiências
egolátricas da cristandade brasileira.
http://cristianismohoje.com.br/materia.php?k=848
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Natureza humana
Cheguei. Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza
Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa
Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar
Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar.
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza
Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa
Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar
Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar.
Vinícius de Moraes (www.viniciusdemoraes.com.br)
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Urbano (Blog A Trilha)
Foto surrupiada do Flick de André Aguiar
Morto. Urbano morreu. E com ele a cidade. Ou pelo menos a praça onde
Urbano viveu nos últimos 30 anos. Quase ninguém soube de sua morte. Foi
encontrado por um passante casual. Os usuários frequentes da praça não
viram, não souberam, não sentiram falta. Nem saberiam o nome do homem.
Depois de algumas semanas, porém, começaram a perguntar um pro outro, "e
o mendigo que tava sempre por aí?" "Ah é. Nunca mais vi." "Melhor
assim. Já vai tarde".
http://www.atrilha.blogspot.com.br/2012/06/urbano.html
terça-feira, 5 de junho de 2012
Pondé e o narcisismo no “Face” (16/04/2012)
Cuidado!
Quem tem muitos amigos no “Face” pode ter uma personalidade narcísica.
Personalidade narcísica não é alguém que se ama muito, é alguém muito
carente.
Faço parte do que o jornal britânico The Guardian chama de “social media sceptics” (céticos em relação às mídias sociais) em um artigo dedicado a pesquisas sobre o lado “sombrio” do Facebook (17/3/2012).
Ser um
“social media sceptic” significa não crer nas maravilhas das mídias
sociais. Elas não mudam o mundo. Aliás, nem acredito na “história”, sou
daqueles que suspeitam que a humanidade anda em círculos, somando
avanços técnicos que respondem aos pavores míticos atávicos: morte,
sofrimento, solidão, insegurança, fome, sexo. Fazemos o que podemos
diante da opacidade do mundo e do tempo.
As mídias
sociais potencializam o que no humano é repetitivo, banal e angustiante:
nossa solidão e falta de afeto. Boas qualidades são raras e normalmente
são tão tímidas quanto a exposição pública.
E, como dizia o poeta russo Joseph Brodsky
(1940-96), falsos sentimentos são comuns nos seres humanos, e quando se
tem um número grande deles juntos, a possibilidade de falsos
sentimentos aflorarem cresce exponencialmente.
Em 1979, o historiador americano Christopher Lasch (1932-94) publicava seu best-seller acadêmico “A Cultura do Narcisismo”,
um livro essencial para pensarmos o comportamento no final de século
20. Ali, o autor identificava o traço narcísico de nossa era: carência,
adolescência tardia, incapacidade de assumir a paternidade ou
maternidade, pavor do envelhecimento, enfim, uma alma ridiculamente
infantil num corpo de adulto.
Não estou
aqui a menosprezar os medos humanos. Pelo contrário, o medo é meu irmão
gêmeo. Estou a dizer que a cultura do narcisismo se fez hegemônica
gerando personalidades que buscam o tempo todo ser amadas, reconhecidas,
e que, portanto, são incapazes de ver o “outro”, apenas exigindo do
mundo um amor incondicional.
Segundo a
pesquisa da Universidade de Western Illinois (EUA), discutida pelo
periódico britânico, “um senso de merecimento de respeito, desejo de
manipulação e de tirar vantagens dos outros” marca esses bebês grandes
do mundo contemporâneo, que assumem que seus vômitos são significativos o
bastante para serem postados no “Face”.
A pesquisa
envolveu 294 estudantes da universidade em questão, entre 18 e 65 anos, e
seus hábitos no “Face”. Além do senso de merecimento e desejo de
manipulação mencionados acima, são traços “tóxicos” (como diz o artigo)
da personalidade narcísica com muitos amigos no “Face” a obsessão com a
autoimagem, amizades superficiais, respostas especialmente agressivas a
supostas críticas feitas a ela, vidas guiadas por concepções altamente
subjetivas de mundo, vaidade doentia, senso de superioridade moral e
tendências exibicionistas grandiosas.
Pessoas com tais traços são mais dadas a buscar reconhecimento social do que a reconhecer os outros.
Segundo o
periódico britânico, a assistente social Carol Craig, chefe do Centro
para Confiança e Bem-estar (meu Deus, que nome horroroso…), disse que os
jovens britânicos estão cada vez mais narcisistas e reconhece que há
uma tendência da educação infantil hoje em dia, importada dos EUA para o
Reino Unido (no Brasil, estamos na mesma…), a educar as crianças cada
vez mais para a autoestima.
Cada vez mais plugados e cada vez mais solitários. Na sociedade contemporânea, a solidão é como uma epidemia fora de controle.
O Facebook é
a plataforma ideal para autopromoção delirante e inflação do ego via
aceitação de um número gigantesco de “amigos” irreais. O dr. Viv
Vignoles, catedrático da Universidade de Sussex, no Reino Unido, afirma
que, nos EUA, o narcisismo já era marca da juventude desde os anos 80,
muito antes do “Face”.
Portanto, a
“culpa” não é dele. Ele é apenas uma ferramenta do narcisismo
generalizado. Suspeito muito mais dos educadores que resolveram que a
autoestima é a principal “matéria” da escola.
A educação não deve ser feita para aumentar nossa autoestima, mas para nos ajudar a enfrentar nossa atormentada humanidade.
Luiz Felipe Pondé (jornal FSP – 16.04.2012)
sexta-feira, 25 de maio de 2012
O Verbo Executivo (Paulo Brabo)
Se cada
época interpreta a Bíblia à sua própria imagem1,
a nossa era é a do Jesus executivo. O maior ícone dessa tendência é best-seller O Monge e o Executivo, de James C. Hunter. Embora
recheado de ensinos piedosos e boas intenções, O Monge acaba reduzindo o
Filho do Homem a valioso exemplo corporativo. A coisa fundamental que
precisamos imitar em Jesus, sugere o livro – e nisso é acompanhado em côro por
um longo rosário de obras menores da mesma estirpe – é o seu talento de
liderança.
Eu não
ousaria discordar de qualquer um que se levanta para exaltar alguma qualidade
de Jesus, mas gostaria de ser o primeiro a discordar da noção de que seus
“poderes” – de liderança ou de qualquer outra natureza – possam ser usados para
outro propósito que não os que ele propôs para si mesmo e para seus seguidores.
Enxergar
Jesus como exemplo de liderança para um executivo moderno é o mesmo que não
enxergá-lo. Não estou apenas dizendo que o ensino mais amplo de Jesus é
completamente incompatível com a ferocidade do capitalismo dos nossos dias; não
vou sequer mencionar que Jesus falava com extrema desconfiança de noções das
quais a civilização corporativa depende – coisas como o lucro e a propriedade
privada.
“E por que vocês não julgam por vocês mesmos o que
é certo?”
Estou
apenas falando de liderança. O segredo de Jesus não estava em liderar as
pessoas “com amor, dedicação e sacrifício”. Na verdade Jesus não era um líder
em qualquer sentido convencional; ele recusou-se consistentemente a assumir
qualquer papel de liderança, mesmo quando era pressionado a fazê-lo
informalmente. A sua hesitação – e sua visão – sobre liderança está
magistralmente encapsulada em Lucas 12:57: E por que vocês não julgam por
vocês mesmos o que é certo?
Jesus
recusava-se a dar às pessoas a ilusão de segurança que proporcionam ainda hoje
os líderes convencionais. Ele sonhava com (e investiu em) seguidores
independentes – um séquito de pastores, não de ovelhas. Não é à toa que a
maioria achasse que exigir isso era exigir demais.
Apesar do
cortejo sempre crescente de seguidores que angariava a cada parada, Jesus
recusou-se até o final a liderá-los em qualquer grau importante. Ao contrário,
deixou claro em mais de uma ocasião que não assumiria o papel de rei, líder
militar ou messias vitorioso que seus assessores de marketing tinham preparado
para ele. O único empreendimento corporativo de qualquer monta no qual esteve
envolvido, “a missão dos setenta”, não recebe maior destaque na narrativa geral
dos evangelhos.
As
pessoas seguiam Jesus porque ele era irresistível – e o que o tornava
irresistível era a singularidade da sua pessoa, da sua visão e do seu caráter.
Não havia método secreto, nem mesmo o amor, que ele usasse para levar as
pessoas a fazerem o que ele queria.
Finalmente,
qualquer que seja a visão que temos de Jesus, a leitura do evangelho deixará
muito claro que não temos como abraçar apenas parte do seu espírito. Jesus não
era homem de meias-palavras ou de meias-paixões. Não temos nada a ganhar em
colocar em prática os princípios de liderança que Jesus aplicou, se ignorarmos
ao mesmo tempo o modo como ele viveu.
Acho na
verdade difícil imaginar afronta maior.
1 É típico da natureza humana que qualquer pessoa que
recebe e transmite tradições importantes enxergue-as na perspectiva que mais
faça sentido no contexto do seu meio religioso, cultural, social, econômico e
intelectual, que com freqüência não será o mesmo ambiente pressuposto antes
disso pela pessoa ou grupo que criaram ou anteriormente transmitiram a(s)
tradição(ções). O ambiente da nova pessoa ou novo grupo passa a se tornar,
muito compreensivelmente, a única perspectiva importante, naquele momento do
tempo, para a interpretação do material recebido.
Allan J. Hauser e Duane F. Watson, A History of Biblical Interpretation
Allan J. Hauser e Duane F. Watson, A History of Biblical Interpretation
http://www.baciadasalmas.com/2005/o-verbo-executivo/
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Ser discípulo é bem diferente (Pr. Paulo Solonca)
Nunca tive dúvidas de que O Senhor Deus quer que sejamos um povo
diferente, formado por discípulos que buscam sempre conhecer a vontade
de Deus para suas vidas.
Levítico 20:26 ". . . Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo
e separei-vos dos povos, para serdes meus.
1 Pedro 2:9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
Tornar-se um discípulo de Jesus é juntar-se a um povo que lê, estuda e
medita na Palavra de Deus .
1 Timóteo 4:15 Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu
progresso a todos seja manifesto.
Atos 17:11 Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica;
pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras
todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.
Cremos que através do discipulado e outras ferramentas de ensino e
vivência, nossos membros podem aprender a ser humildes, pacientes,
mansos, justos,
Cremos que a pregação e o ensino da Palavra de Deus, (+) mais as oportunidades que oferecemos para o desenvolvimento da
comunhão entre os irmãos . . . geram discípulos generosos, sinceros,
bons, felizes, honrados, íntegros e que conseguem viver sempre acima
da mediocridade.
Tornar-se um discípulo é permitir que seu estilo de vida seja
caracterizado por amar, perdoar e servir, se tornaram homens e mulheres
que não conseguem conviver com o pecado, mas confessam suas faltas e as
abandonam. Guardam da Palavra de Deus e em seus corações e obedecem
seus princípios eternos. Cumprem ordens, sujeitam-se às autoridades,
pagam seus impostos.
Discípulos entendem que além de serem cidadão dos céus, ainda são
cidadãos da Terra e que tem deveres de cuidarem dela, bem como se serem
instrumentos de justiça.
A semelhança de Cristo nos leva a colocar nosso
dinheiro e nossos bens a serviço dos irmãos e da causa de Jesus.
Discípulos contribuem para a “Causa do Mestre” com alegria através de
ofertas generosas. Aprenderam que Deus não aceita barganhas para
abençoar seus filhos.
Engajam-se nas atividades da Igreja de Jesus de modo voluntário, por
entenderem o tamanho e o valor da salvação que ganharam de modo
gratuito.
Aprenderam que, logo após o novo nascimento, Deus os presenteou com
Dons Espirituais que devem ser usados para a edificação da Igreja de
Jesus.
Falam sempre a verdade, Buscam a paz com todos, Vivem de maneira íntegra
, não se colocam em jugo desigual.Confiam em Deus, Amam seu próximo não
só de palavra, mas os ajudam através de atitudes, ações muitas vezes
sacrificiais.
Discípulos compartilham o que tem com os necessitados,
choram com os que choram, alegram-se com os que se alegram, são um com
os irmãos, aprenderam a devolver o mal com o bem, sofrem as injustiças,
dão graças sempre por tudo.
http://discipulosdejesuscristo.blogspot.com.br/2012/05/ser-discipulo-e-ser-bem-diferente-pr.html
sexta-feira, 11 de maio de 2012
A casa
Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero
Vinícius de Moraes
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero
Vinícius de Moraes
quarta-feira, 9 de maio de 2012
A parábola da bola
Os dez homens importantes sentados ao redor da bola discutiam acaloradamente:
– A bola é grená, disse um.
– Claro que não, a bola é bordô, retrucou outro em tom raivoso.
Todos
estavam fascinados pela beleza da bola e tentavam discernir a cor da
bola. Cada um apresentava seu argumento tentando convencer os demais,
acreditando que sabia qual era a cor da bola. A bola, no centro da sala,
calada sob um raio de sol que entrava pela janela, enchia a sala de uma
luminosidade agradável que deixava o ambiente ainda mais aconchegante,
exceto para aqueles dez homens importantes, que se ocupavam em defender
seus pontos de vista.
–
Você é cego?, ecoou pela sala gerando um silêncio que parecia ter sido
combinado entre os outros nove homens importantes. Era até engraçado de
observar a discussão – na verdade era trágico, mas parecia cômico. Todos
os dez homens importantes usavam óculos escuros, cada um com uma lente
diferente. Talvez por causa dos óculos pesados que usavam, um deles
gritou “você é cego?”, pois pareciam mesmo cegos.
Depois
do susto, a discussão recomeçou. O sujeito que acreditava que a bola
era cor de vinho debatia com o que enxergava a bola alaranjada, mas um
não ouvia o que o outro dizia, pois cada um usava o tempo em que o outro
estava falando para pensar em novos argumentos para justificar sua
verdade. Aos poucos, a discussão deixou de ser a respeito da cor da
bola, e passou a ser uma troca de opiniões e afirmações contundentes a
respeito das supostas cores da bola. A partir de um determinado momento
que ninguém saberia dizer ao certo quando, os dez homens tiraram os
olhos da bola e passaram a refutar uns ao outros. Em vez de sugestões do
tipo: – A bola é vermelha, todos se precipitavam em listar razões
porque a bola não era grená, nem cor de vinho, nem mesmo alaranjada.
De
repente, alguém gritou: – Ei pessoal, onde está a bola? Todos pararam
de falar – estavam todos falando ao mesmo tempo, e foi então que
perceberam um alarido parecido com aquelas gargalhadas gostosas que as
crianças dão quando sentem cócegas. Correram para a janela e viram uma
criançada brincando com a bola, que parecia feliz sendo jogada de mão em
mão. Ficaram enfurecidos com tamanho desrespeito com a bola. Ficaram
também muito contrariados com a bola, que parecia tão feliz, mas não
tiveram coragem de admitir, afinal, a bola, era a bola.
Lá
fora, sem dar a mínima para os dez homens importantes, estavam as
crianças brincando e se divertindo a valer com a bola que os dez homens
importantes pensavam que era deles. E nenhuma das crianças sabia qual
era a cor da bola.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Num banco de praça (Tuco Egg)
O profeta estava sentado num banco da praça quando ouviu o fuzuê que
vinha pela rua 15. Um amontoado heterogêneo de gente trazia um homem
pelo braço enquanto gritava, desordenado, coisas como "mulambento, vagabundo, preguiçoso, vadio, põe numa kombi e leva de volta pro Paraná".
Eram estudantes, bancários, comerciantes e empresários, homens e
mulheres, velhos, novinhos e meia vida. Ainda gritavam quando alcançaram
o banco da praça e largaram o homem aos pés do profeta que desencostou
do banco, cruzou os braços e esperou calmamente a poeira baixar, vagando
seus olhos pelos olhares enfurecidos do povo. Quando conseguiu
silêncio, perguntou à mutidão, "o que ele fez?", e o povo sentenciou, "é um vadio, um vagabundo que vem ninguém sabe de onde pra perambular por aí, sem emprego fixo". O profeta olhou para o homem caido a seus pés e, feito remanso de rio, começou a conversa.
"Onde você mora?"
"Tenho casa não. Vivo vagando por aí. Quando gosto dum lugar, paro e fico até enjoar."
"E vive de quê?"
"De qualquer coisa. Tapo buraco, remendo pano, troco telha, arrumo jardim, concerto cerca. E ainda faço uns artesanatos ou fico tocando gaita e recitando meus poemas numa pracinha qualquer."
"Poemas e gaita é? Que legal. E sente falta de alguma coisa?"
"Essa vida é boa, mas sinto falta de companhia. É um caminho de liberdade, mas um caminho de solidão".
O profeta fez uns segundos de silencio, olhando fixo pro homem, depois fechou os olhos, apoiou as costas no encosto do banco enquanto ia enchendo o peito de ar, escorregou até a ponta do assento, esticou as pernas, cruzou as mãos atrás da cabeça, apontou o nariz pro céu e começou a assobiar uma canção de Gilberto Gil. A multidão que ainda estava eufórica e ansiosa, foi perdendo a paciência. A maior parte da platéia evadiu da praça resmungando e olhando pro relógio enquanto apressava o passo pra compensar algum atraso. Aos que ficaram até o fim da canção, o profeta falou muito mansamente, depois de um suspiro e olhando nos olhos de cada um.
"Conheço um outro homem que também vagava assim por aí, sem ter onde reclinar a cabeça. Dizia coisas próprias de um vagabundo, como não se preocupem com o dia de amanhã e basta a cada dia seu próprio mal". Suspirou fundo e concluiu "se algum de vocês se acha mais livre do que um desses dois homens, ou mais feliz, ou mais cheio de paz, então que mande vir a kombi que o levamos pra longe daqui". Em silêncio e lentamente, os poucos que ainda estavam lá foram dispersando, uns olhando para o chão, outros para algum ponto qualquer do infinito.
O profeta se abaixou, ajudou o homem a levantar do chão e caminhou com ele até o carrinho de acarajé da Dona Dora "Me dê dois". Sentaram juntos no mesmo banco e o profeta, sorrindo, puxou o andarilho pra perto de si, num abraço forte e demorado, e lhe beijou a testa.
"Onde você mora?"
"Tenho casa não. Vivo vagando por aí. Quando gosto dum lugar, paro e fico até enjoar."
"E vive de quê?"
"De qualquer coisa. Tapo buraco, remendo pano, troco telha, arrumo jardim, concerto cerca. E ainda faço uns artesanatos ou fico tocando gaita e recitando meus poemas numa pracinha qualquer."
"Poemas e gaita é? Que legal. E sente falta de alguma coisa?"
"Essa vida é boa, mas sinto falta de companhia. É um caminho de liberdade, mas um caminho de solidão".
O profeta fez uns segundos de silencio, olhando fixo pro homem, depois fechou os olhos, apoiou as costas no encosto do banco enquanto ia enchendo o peito de ar, escorregou até a ponta do assento, esticou as pernas, cruzou as mãos atrás da cabeça, apontou o nariz pro céu e começou a assobiar uma canção de Gilberto Gil. A multidão que ainda estava eufórica e ansiosa, foi perdendo a paciência. A maior parte da platéia evadiu da praça resmungando e olhando pro relógio enquanto apressava o passo pra compensar algum atraso. Aos que ficaram até o fim da canção, o profeta falou muito mansamente, depois de um suspiro e olhando nos olhos de cada um.
"Conheço um outro homem que também vagava assim por aí, sem ter onde reclinar a cabeça. Dizia coisas próprias de um vagabundo, como não se preocupem com o dia de amanhã e basta a cada dia seu próprio mal". Suspirou fundo e concluiu "se algum de vocês se acha mais livre do que um desses dois homens, ou mais feliz, ou mais cheio de paz, então que mande vir a kombi que o levamos pra longe daqui". Em silêncio e lentamente, os poucos que ainda estavam lá foram dispersando, uns olhando para o chão, outros para algum ponto qualquer do infinito.
O profeta se abaixou, ajudou o homem a levantar do chão e caminhou com ele até o carrinho de acarajé da Dona Dora "Me dê dois". Sentaram juntos no mesmo banco e o profeta, sorrindo, puxou o andarilho pra perto de si, num abraço forte e demorado, e lhe beijou a testa.
http://atrilha.blogspot.com.br/2012/04/num-banco-de-praca.html
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Ser seu amigo...
Uma homenagem a todos que amo e me amam,
que conseguem ver em mim o que nem de perto imagino,
àqueles que conhecem além do impostor que há em mim,
que sabem o que mais me dói,
que me incentivam a ser e mostrar quem verdadeiramente sou apesar de mim,
que sabem que no fundo o que mais quero é ser aceito e amado.
Se você é um desses, essa mensagem é para você,
se não é...acredite...você realmente não me conhece...
Caso tenha interesse, seja bem vindo, ficarei contente em compartilhar minha vida,
mas antes, divido as palavras de Henry Nouwen com você...
"Parece necessário restabelecer o princípio básico de que ninguém pode
ajudar alguém sem ficar envolvido, sem mergulhar com todo seu eu na
dolorosa situação, sem correr o risco de ser prejudicado, ferido ou
mesmo destruído no processo. [...] Quem pode salvar uma criança de uma
casa em chamas sem correr o risco de se queimar? Quem pode acabar com o
sofrimento sem nele penetrar?
(Henry Nouwen, Livro "Sofrimento que cura", Editora Paulinas)"
(Henry Nouwen, Livro "Sofrimento que cura", Editora Paulinas)"
Se eu morrer antes de você,
faça-me um favor.
Chore o quanto quiser,
mas não brigue com Deus
por Ele haver me levado.
Se não quiser chorar,
não chore.
Se não conseguir chorar,
não se preocupe.
Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem
algum fato a meu respeito,
ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais,
corrija o exagero.
Se me criticarem demais,
defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo,
só porque morri,
mostre que eu tinha um pouco
de santo, mas estava longe
de ser o santo que me pintam.
Se me quiserem fazer
um demônio mostre
que talvez eu tivesse um pouco
de demônio, mas que a vida inteira
eu tentei ser bom e amigo.
Se falarem mais de mim
do que de Jesus Cristo,
chame a atenção deles.
Se sentir saudades
e quiser falar comigo
fale com Jesus e eu ouvirei.
Espero estar com Ele
o suficiente para continuar
sendo útil á você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever
alguma coisa sobre mim,
diga apenas uma frase:
"foi meu amigo,
acreditou em mim
e me quis mais perto de Deus.
Aí então,
derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente
para enxugá-la,
mas não faz mal.
Outros amigos farão isso
no meu lugar.
E, vendo-me
bem substituído,
irei cuidar de minha nova tarefa no céu.
Mas, de vez em quando
dê uma espiadinha na direção de Deus.
Você não me verá,
mas eu ficaria muito feliz
vendo você olhar pra Ele.
E quando chegar a sua vez
de ir para o Pai,
aí, sem nenhum véu
á separar a gente,
vamos viver em Deus
a amizade que aqui
nos preparou pra Ele.
Você acredita nessas coisas?
Sim?
Então ore para que nós dois
vivamos como quem sabe
que vai morrer um dia
e que morramos
como quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido
se trás o céu
para mais perto da gente,
e se inaugura aqui mesmo
o seu começo.
Eu não vou estranhar o céu.
Sabe por quê ?
Por que...
ser seu amigo já é um pedaço dele
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Moe e sua lasanha...
...
Carlton Hayes, um atleta magnificamente talhado aos vinte e poucos anos, de altura e 84 kilos, pula numa cama elástica com o brilho irresistível de um sorriso. Uma multidão se ajunta. Ele passa a pular corda - uma amostra deslumbrante de coordenação, agilidade e graça. Os espectadores dão vivas. "Louvado seja o Senhor", grita o atleta.
Enquanto isso, Moe, um de seus ajudantes, se aproxima com uma garrafa de água. Moe tem pouco mais de cinquenta anos, tem 1,62 de altura e é barrigudo. Usa um terno amarrotado, camisa com o colarinho aberto, gravata fora do lugar. Moe tem uma pequena faixa de cabelo emaranhado e ensebado, que vai das têmporas até a parte de trás da cabeça, onde desaparece num grumo de cabelo mais preto, meio cinza. O pequeno ajudante está com a barba por fazer. Suas bochechas gordas e caídas, e um olho de vidro fazem os olhos dos expectadores se desviarem rapídamente.
- É um bronco patético - diz um homem.
- Apenas um parasita obsequioso, sugando um artista - acrescenta outro.
Moe não é uma coisa nem outra. Seu coração está enterrado em Cristo, no amor do Pai. Ele se move sem constrangimentos no meio da multidão e entrega graciosamente a água para o herói. Ele se sente ajustado, como uma luva na mão, ao seu papel de servo (foi assim que Jesus se manifestou pela primeira vez a Moe e transformou sua vida). Moe se sente seguro consigo.
Naquela noite, Carlton Hayes faria o discurso principal no banquete da Associação dos Atltas Cristãos, vindos de toda parte dos Estados Unidos. Além disso, seria homenageado com uma taça de cristal, por ser o primeiro atleta a ganhar oito medalhas olímpicas.
Cinco mil pessoas se reuniram no hotel Ritz-Carlton. Celebridades do mundo da política, dos esportes e da mídia estão espalhadas por todo o salão. Quando Hayes se dirige ao pódio, a multidão está quase no fim de uma refeição suntuosa. O discurso do orador é abundante em referências ao poder de Cristo e à imperturbável gratidão a Deus. Corações são tocados, homens e mulheres choram livremente e, então, ovacionam em pé.
Mas, por trás desse cintilante discurso, o olhar vago de Carlton revela que suas palavras não habitam sua alma. O estrelato corroeu sua presença junto a Jesus. A intimidade com Deus se esvaneceu na distância. O sussurrar do Espírito foi abafado pelo aplauso ensurdecedor.
Sustentado pelo sucesso e pelo rugido da multidão, o herói olímpico move-se facilmente de uma mesa a outra. Ele se engraça com todos, desde os garçons até as estrelas de cinema. Ao mesmo tempo, num hotel barato, Moe come sozinho sua quentinha congelada. Não foi convidado para o banquete no Ritz-Carlton porque, ele simplesmente não se encaixaria ali. É claro que não seria adequado para um ajudante bronco, com barriga de bujão e um olho de vidro puxar uma cadeira ao lado de pessoas como Ronald Reagan, Charlton Heston e Arnold Schwarzenegger.
Moe senta-se à mesa de seu quarto e fecha os olhos. O amor do Cristo crucificado o invade. Seus olhos se enchem de lágrimas. "Obrigado Jesus", sussurra, enquanto retira a cobertura plástica da lasanha esquentada no microondas. Ele folheia sua Bíblia até o salmo 23.
...
Extraído do Livro "O impostor que vive em mim" de Brennan Manning.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Revendo nossos conceitos sobre discipulado (Pr. Paulo Solonca - 11/06/2011)
Está
na hora de a Igreja de Jesus abandonar a concepção de que discipulado é
um ministério da igreja que se preocupa com novos convertidos.
Discipulado também não é apenas um encontro semanal para estudar a Bíblia, cantar e passar alguns momentos de comunhão e oração. Discipulado vai além disso.
Seria bom se pudéssemos perguntar: “O que será que Jesus tinha em mente? O discipulado que Ele praticou produziu personalidades expressivas. À maneira de Jesus discipular deu origem a homens e mulheres que impactaram a sociedade em que viviam”.
O discipulado praticado por Jesus forjou homens e mulheres que mudaram a história de suas próprias vidas assim como a história de sua região. Alguns chegaram a influenciar as personalidades das grandes potências da época.
O discipulado de Jesus produziu líderes, que por sua vez geraram outros líderes. Precisamos avaliar e reavaliar nossos conceitos sobre discipulado.
Tenho notado, andando por diversas partes de nossa nação, que muitos líderes estão desanimados com os resultados que estão alcançando no discipulado que desenvolvem. Isto pode estar acontecendo pelo fato de estes líderes estarem desenvolvendo um discipulado pouco parecido com o de Jesus. Gostaria de apontar inicialmente alguns enganos sobre discipulado.
Primeiro, achar que o discipulado foi uma estratégia usada por Jesus para alcançar apenas o homem daquela época e daquela cultura. Para estes, o discipulado poderia funcionar em pequenas aldeias, onde Pedro conhecia João, Levi, Tiago.
As pessoas não tinham tanta coisa para fazer. Dedicavam-se às atividades agropastoris, chegavam cedo em casa, não tinham televisão, nem internet, não tinham cursos noturnos nem eram funcionários de empresas que exigem trabalho em horas extras. Numa sociedade assim tão simples como a de algumas dessas aldeias, o discipulado poderia ser praticado.
Poderia se falar em amar ao próximo, perdoar os inimigos, deixar-se bater na outra face, levar as cargas uns dos outros, ensinar uns aos outros e assim por diante.
Não é possível acreditar nesta mentira.
O discipulado pode ser perfeitamente praticado pelo o homem moderno. Concordo que a sociedade dos aldeões galileus era extremamente diferente da sociedade moderna.
Entretanto, o homem de hoje continua sendo o mesmo dos tempos da igreja primitiva. Ambos tinham problemas com corrupção, racismo, opressão econômica, ganância, abuso de poder, legalismo religioso, pobreza, injustiça social, violência, fome, imoralidade.
Outro engano é reduzir o discipulado a mais uma onda da igreja de nossos dias.
Creio que quase todos já pudemos viver ou mesmo observar a passagem de algumas "ondas" em nossas vidas. Você se lembra de alguma? Eu me lembro de várias: por ex., a onda do cabelo comprido no tempo dos Beatles; da calça boca de sino, do boliche, patins, skate, do roller, do cooper, da aeróbica.
Ondas surgem com grande intensidade, causam agitação, despertam motivações, promovem movimento. No meio do povo onda é aquilo que é moderno, novo, de vanguarda. Onda, na verdade, é um modismo; portanto, tem um caráter efêmero. Quando nos referimos a uma onda, logo percebemos que se trata de algo de duração relativa e que em algum momento passará.
Embora as ondas aconteçam no mundo, freqüentemente, elas surgem e se desenvolvem no seio da Igreja. A igreja de Jesus Cristo já viveu grandes ondas. Nestes últimos anos a igreja tem sido assolada por sucessivas ondas (gostaria de explicar a intenção destas citações: não se trata de crítica ou reprovação às igrejas ou a comunidades que as praticam, mas estou ressaltando a ênfase dada durante algum tempo a estes assuntos):
- onda das revelações, dos dentes de ouro, cair na presença do Senhor, onda do sopro do Espírito, da unção do riso, da prosperidade, da saúde perfeita, do vômito santo, da batalha espiritual, das maldições hereditárias, da cura interior, onda das missões, do louvor, do evangelismo explosivo, da pregação expositiva, do crescimento da igreja, onda das comunidades.
Lamentavelmente muitos pastores e líderes acreditam que discipulado é uma onda. Como tal, é um modismo que não deveria merecer atenção. Um colega de ministério se reportou a mim dizendo: "Esse negócio de Discipulado é mais uma onda, uma mania; é coisa de missionário americano". Será que o discipulado pode ser considerado uma onda, uma moda?
As ondas e os modismos dentro da igreja se caracterizam por hábitos passageiros, gostos, idéias e ênfases que ditam comportamentos em determinada época, mas que com o passar do tempo se diluem e deixam apenas lembranças e pouco resultado efetivo.
A onda dentro da igreja é quase sempre um capricho de certas pessoas mais influentes que tentam impor certos costumes, certos comportamentos, certas ênfases doutrinárias, mesmo certas técnicas.
Muitas vezes tem pouco a ver com a vontade de Deus. Normalmente, o modismo eclesiástico tem vitimado aqueles que funcionam de modo compartimentado, ou seja, aqueles que se deixam levar apenas pelas emoções, ou apenas pela vontade, ou então só pela razão.
Uma maneira saudável e eficiente de se prevenir das armadilhas das ondas eclesiásticas é a proposta de administrar a igreja, de tal forma, que seus membros possam funcionar e produzir a partir de um equilíbrio estrutural interior, ou seja, de todo coração, de toda a alma, com todas as forças e com todo o entendimento.
A igreja de Jesus, vez ou outra é varrida por ventos doutrinários, modismos e ondas de ensinos que somente contribuem para retalhar a unidade do Corpo de Cristo - a Igreja - que é o seu povo. Povo este que deveria ser conhecido por sua unidade interna e intensa comunhão entre as mais variadas partes, membros e juntas de seu corpo.
Um povo que deveria ser conhecido pela prática de um amor sobrenatural.
A onda ou modismo é um fenômeno social ou cultural, de caráter mais ou menos coercitivo, que consiste na mudança periódica de estilo, e cuja vitalidade provém da necessidade de conquistar ou manter uma determinada posição social.
Estamos em uma época onde as igrejas estão vivendo dois pólos antagônicos.
Por um lado, existem aquelas que se estratificaram em suas estruturas e metodologias, sem se darem conta de que ficaram esclerosadas. Caracterizam-se por sua inflexibilidade e por sua incapacidade de se adequar ao homem dos nossos dias. Por esta razão, não conseguem alcançar os perdidos.
Quando alcançam, conseguem apenas a sua adesão religiosa dentro do seu contexto social, cultural, e econômico. Do outro lado, igrejas que exageram na sua identificação com os perdidos, imitando-lhes suas preferências, adotando seus costumes e valores e se comportando como um deles.
Neste pólo também transitam as igrejas que enfatizam de maneira desmedida apenas um ou dois aspecto do ministério, como só louvor, ou só missões, ou só pregação expositiva, ou só assistência social, ou evangelismo, ou batalha espiritual, ou só manifestação de dons do Espírito.
Creio que as pessoas da sociedade que nos cercam já estão cansadas de ser manipuladas. Elas logo, logo estarão à busca de igrejas equilibradas. Igrejas que cuidem delas como ovelhas. Numa época em que, a cada dia, o ser humano perde o seu valor, uma época em que as pessoas se vêem substituídas por máquinas e equipamentos, época que tem se caracterizado pela conveniência, pelo interesse escuso, as pessoas estão à procura de alternativas onde possam ser valorizadas, ou pelo menos ser respeitadas e tratadas com dignidade. Será que a Igreja é uma opção que supre estas expectativas? A igreja pode perfeitamente ser um grande oásis para esta sociedade massificada e escravizada. Isto pode acontecer quando ela, a igreja, adotar o discipulado como estilo de vida. O discipulado não é uma onda. Nunca foi. Se foi interpretado assim, foi por causa da má compreensão daqueles que se propuseram a praticá-la.
Outro engano é confundir "fazer convertidos" com "fazer discípulos". Ao invés de entenderem a conversão como ponto de partida para a aventura de tornar-se semelhante a Cristo, consideram-na ponto de chegada, como se o mais ficasse para ser resolvido no céu. Fazer discípulos é uma tarefa artesanal. Toma tempo, dá trabalho e requer dedicação e engajamento.
Outro engano: transferir a tarefa para a Igreja institucional.
Muitos líderes da Igreja acreditam que podem cumprir a Grande Comissão através de eventos e programas formais com séries de conferências e classes dominicais. Estes cristãos são especialistas em convidar um descrente para ir ao templo, mas entendem muito pouco sobre compartilhar a vida de Jesus.
Tratam o discipulado como programa e não como processo. Acreditam que o sujeito que faz o curso de "12 lições" e é assíduo às reuniões dominicais já está discipulado. E, se não surgir uma geração de homens e mulheres que se dediquem ao discipulado, empenhando esforços por preservar a qualidade de vida do povo de Deus, dedicando não somente a transmissão de informações teológicas, mas sobretudo uma Palavra que vivem no dia a dia ... se não surgir uma geração, de homens e mulheres que estejam dispostos a compartilhar de si mesmos, de sua vida, de sua intimidade e de seu caráter... então dentro de pouco tempo este inchaço se esvaziará e surgirá uma Igreja enrugada, flácida, esclerosada, sem nenhuma atração e com pouco poder e quase nada de autoridade.
Eu não me iludo com igrejas lotadas.
Prefiro me preocupar em equipar os santos para que eles desempenhem o seu serviço.
Prefiro saber se estamos ou não ajudando os membros da Igreja Evangélica a ser cada vez mais parecidos com Jesus.
Prefiro saber onde estão aqueles que não desistiram de fazer discípulos.
Prefiro promover um ajuntamento de discipuladores e de discípulos do que um show ou uma manifestação megalomaníaca com muito barulho, mas quase sem nenhuma mensagem compreensível e de pouca ajuda para quem quer realmente encontrar a verdade e que está atrás de soluções práticas para os seus problemas do dia a dia, e que não se contenta com superficialidades religiosas. A função pastoral deve ser reavaliada. Como já disse, certa vez, David Kornfield: "A função pastoral, tal como ela é definida, vivida e cobrada pelas igrejas, impede o pastor de discipular. Em muitas igrejas tem prevalecido a filosofia do ‘nós pagamos para o pastor fazer’. A não ser que a função pastoral seja reavaliada e que ocorram mudanças de prioridades, o discipulado nunca chegará a ser uma realidade em sua vida. E se não chegar a ser uma realidade em sua vida, dificilmente chegará a ser uma realidade nas vidas dos membros de sua igreja.
Enquanto o pastor estiver assumindo funções que devem ser realizadas pelos demais membros do corpo de Cristo, dificilmente ele poderá promover o discipulado".
, exige tempo e disponibilidade. Se a agenda do pastor estiver abarrotada, como ele poderá se dispor para o discipulado?
Por incrível que pareça, em algumas igrejas ainda se acredita que só o pastor pode orar pelos enfermos, sabe expulsar demônios e sabe realizar cultos de aniversário, de formatura, sabe orientar pessoas para o batismo, sabe aconselhar etc. Pastor que funciona assim, está impedindo o crescimento dos demais.
Ele está usurpando a bênção de outros estarem servindo ao Senhor com seus dons e habilidades.
Quando um pastor ensina a sua Igreja a servir e equipa os santos para que eles desempenhem o seu serviço, então ele passa a ter mais tempo disponível para pastorear e discipular a sua liderança.
Por último, Discipular é uma ordem. Não fazer discípulos é uma desobediência, portanto um pecado. Mas, acima disto, discipular é um privilégio.
Discipulado também não é apenas um encontro semanal para estudar a Bíblia, cantar e passar alguns momentos de comunhão e oração. Discipulado vai além disso.
Seria bom se pudéssemos perguntar: “O que será que Jesus tinha em mente? O discipulado que Ele praticou produziu personalidades expressivas. À maneira de Jesus discipular deu origem a homens e mulheres que impactaram a sociedade em que viviam”.
O discipulado praticado por Jesus forjou homens e mulheres que mudaram a história de suas próprias vidas assim como a história de sua região. Alguns chegaram a influenciar as personalidades das grandes potências da época.
O discipulado de Jesus produziu líderes, que por sua vez geraram outros líderes. Precisamos avaliar e reavaliar nossos conceitos sobre discipulado.
Tenho notado, andando por diversas partes de nossa nação, que muitos líderes estão desanimados com os resultados que estão alcançando no discipulado que desenvolvem. Isto pode estar acontecendo pelo fato de estes líderes estarem desenvolvendo um discipulado pouco parecido com o de Jesus. Gostaria de apontar inicialmente alguns enganos sobre discipulado.
Primeiro, achar que o discipulado foi uma estratégia usada por Jesus para alcançar apenas o homem daquela época e daquela cultura. Para estes, o discipulado poderia funcionar em pequenas aldeias, onde Pedro conhecia João, Levi, Tiago.
As pessoas não tinham tanta coisa para fazer. Dedicavam-se às atividades agropastoris, chegavam cedo em casa, não tinham televisão, nem internet, não tinham cursos noturnos nem eram funcionários de empresas que exigem trabalho em horas extras. Numa sociedade assim tão simples como a de algumas dessas aldeias, o discipulado poderia ser praticado.
Poderia se falar em amar ao próximo, perdoar os inimigos, deixar-se bater na outra face, levar as cargas uns dos outros, ensinar uns aos outros e assim por diante.
Não é possível acreditar nesta mentira.
O discipulado pode ser perfeitamente praticado pelo o homem moderno. Concordo que a sociedade dos aldeões galileus era extremamente diferente da sociedade moderna.
Entretanto, o homem de hoje continua sendo o mesmo dos tempos da igreja primitiva. Ambos tinham problemas com corrupção, racismo, opressão econômica, ganância, abuso de poder, legalismo religioso, pobreza, injustiça social, violência, fome, imoralidade.
Outro engano é reduzir o discipulado a mais uma onda da igreja de nossos dias.
Creio que quase todos já pudemos viver ou mesmo observar a passagem de algumas "ondas" em nossas vidas. Você se lembra de alguma? Eu me lembro de várias: por ex., a onda do cabelo comprido no tempo dos Beatles; da calça boca de sino, do boliche, patins, skate, do roller, do cooper, da aeróbica.
Ondas surgem com grande intensidade, causam agitação, despertam motivações, promovem movimento. No meio do povo onda é aquilo que é moderno, novo, de vanguarda. Onda, na verdade, é um modismo; portanto, tem um caráter efêmero. Quando nos referimos a uma onda, logo percebemos que se trata de algo de duração relativa e que em algum momento passará.
Embora as ondas aconteçam no mundo, freqüentemente, elas surgem e se desenvolvem no seio da Igreja. A igreja de Jesus Cristo já viveu grandes ondas. Nestes últimos anos a igreja tem sido assolada por sucessivas ondas (gostaria de explicar a intenção destas citações: não se trata de crítica ou reprovação às igrejas ou a comunidades que as praticam, mas estou ressaltando a ênfase dada durante algum tempo a estes assuntos):
- onda das revelações, dos dentes de ouro, cair na presença do Senhor, onda do sopro do Espírito, da unção do riso, da prosperidade, da saúde perfeita, do vômito santo, da batalha espiritual, das maldições hereditárias, da cura interior, onda das missões, do louvor, do evangelismo explosivo, da pregação expositiva, do crescimento da igreja, onda das comunidades.
Lamentavelmente muitos pastores e líderes acreditam que discipulado é uma onda. Como tal, é um modismo que não deveria merecer atenção. Um colega de ministério se reportou a mim dizendo: "Esse negócio de Discipulado é mais uma onda, uma mania; é coisa de missionário americano". Será que o discipulado pode ser considerado uma onda, uma moda?
As ondas e os modismos dentro da igreja se caracterizam por hábitos passageiros, gostos, idéias e ênfases que ditam comportamentos em determinada época, mas que com o passar do tempo se diluem e deixam apenas lembranças e pouco resultado efetivo.
A onda dentro da igreja é quase sempre um capricho de certas pessoas mais influentes que tentam impor certos costumes, certos comportamentos, certas ênfases doutrinárias, mesmo certas técnicas.
Muitas vezes tem pouco a ver com a vontade de Deus. Normalmente, o modismo eclesiástico tem vitimado aqueles que funcionam de modo compartimentado, ou seja, aqueles que se deixam levar apenas pelas emoções, ou apenas pela vontade, ou então só pela razão.
Uma maneira saudável e eficiente de se prevenir das armadilhas das ondas eclesiásticas é a proposta de administrar a igreja, de tal forma, que seus membros possam funcionar e produzir a partir de um equilíbrio estrutural interior, ou seja, de todo coração, de toda a alma, com todas as forças e com todo o entendimento.
A igreja de Jesus, vez ou outra é varrida por ventos doutrinários, modismos e ondas de ensinos que somente contribuem para retalhar a unidade do Corpo de Cristo - a Igreja - que é o seu povo. Povo este que deveria ser conhecido por sua unidade interna e intensa comunhão entre as mais variadas partes, membros e juntas de seu corpo.
Um povo que deveria ser conhecido pela prática de um amor sobrenatural.
A onda ou modismo é um fenômeno social ou cultural, de caráter mais ou menos coercitivo, que consiste na mudança periódica de estilo, e cuja vitalidade provém da necessidade de conquistar ou manter uma determinada posição social.
Estamos em uma época onde as igrejas estão vivendo dois pólos antagônicos.
Por um lado, existem aquelas que se estratificaram em suas estruturas e metodologias, sem se darem conta de que ficaram esclerosadas. Caracterizam-se por sua inflexibilidade e por sua incapacidade de se adequar ao homem dos nossos dias. Por esta razão, não conseguem alcançar os perdidos.
Quando alcançam, conseguem apenas a sua adesão religiosa dentro do seu contexto social, cultural, e econômico. Do outro lado, igrejas que exageram na sua identificação com os perdidos, imitando-lhes suas preferências, adotando seus costumes e valores e se comportando como um deles.
Neste pólo também transitam as igrejas que enfatizam de maneira desmedida apenas um ou dois aspecto do ministério, como só louvor, ou só missões, ou só pregação expositiva, ou só assistência social, ou evangelismo, ou batalha espiritual, ou só manifestação de dons do Espírito.
Creio que as pessoas da sociedade que nos cercam já estão cansadas de ser manipuladas. Elas logo, logo estarão à busca de igrejas equilibradas. Igrejas que cuidem delas como ovelhas. Numa época em que, a cada dia, o ser humano perde o seu valor, uma época em que as pessoas se vêem substituídas por máquinas e equipamentos, época que tem se caracterizado pela conveniência, pelo interesse escuso, as pessoas estão à procura de alternativas onde possam ser valorizadas, ou pelo menos ser respeitadas e tratadas com dignidade. Será que a Igreja é uma opção que supre estas expectativas? A igreja pode perfeitamente ser um grande oásis para esta sociedade massificada e escravizada. Isto pode acontecer quando ela, a igreja, adotar o discipulado como estilo de vida. O discipulado não é uma onda. Nunca foi. Se foi interpretado assim, foi por causa da má compreensão daqueles que se propuseram a praticá-la.
Outro engano é confundir "fazer convertidos" com "fazer discípulos". Ao invés de entenderem a conversão como ponto de partida para a aventura de tornar-se semelhante a Cristo, consideram-na ponto de chegada, como se o mais ficasse para ser resolvido no céu. Fazer discípulos é uma tarefa artesanal. Toma tempo, dá trabalho e requer dedicação e engajamento.
Outro engano: transferir a tarefa para a Igreja institucional.
Muitos líderes da Igreja acreditam que podem cumprir a Grande Comissão através de eventos e programas formais com séries de conferências e classes dominicais. Estes cristãos são especialistas em convidar um descrente para ir ao templo, mas entendem muito pouco sobre compartilhar a vida de Jesus.
Tratam o discipulado como programa e não como processo. Acreditam que o sujeito que faz o curso de "12 lições" e é assíduo às reuniões dominicais já está discipulado. E, se não surgir uma geração de homens e mulheres que se dediquem ao discipulado, empenhando esforços por preservar a qualidade de vida do povo de Deus, dedicando não somente a transmissão de informações teológicas, mas sobretudo uma Palavra que vivem no dia a dia ... se não surgir uma geração, de homens e mulheres que estejam dispostos a compartilhar de si mesmos, de sua vida, de sua intimidade e de seu caráter... então dentro de pouco tempo este inchaço se esvaziará e surgirá uma Igreja enrugada, flácida, esclerosada, sem nenhuma atração e com pouco poder e quase nada de autoridade.
Eu não me iludo com igrejas lotadas.
Prefiro me preocupar em equipar os santos para que eles desempenhem o seu serviço.
Prefiro saber se estamos ou não ajudando os membros da Igreja Evangélica a ser cada vez mais parecidos com Jesus.
Prefiro saber onde estão aqueles que não desistiram de fazer discípulos.
Prefiro promover um ajuntamento de discipuladores e de discípulos do que um show ou uma manifestação megalomaníaca com muito barulho, mas quase sem nenhuma mensagem compreensível e de pouca ajuda para quem quer realmente encontrar a verdade e que está atrás de soluções práticas para os seus problemas do dia a dia, e que não se contenta com superficialidades religiosas. A função pastoral deve ser reavaliada. Como já disse, certa vez, David Kornfield: "A função pastoral, tal como ela é definida, vivida e cobrada pelas igrejas, impede o pastor de discipular. Em muitas igrejas tem prevalecido a filosofia do ‘nós pagamos para o pastor fazer’. A não ser que a função pastoral seja reavaliada e que ocorram mudanças de prioridades, o discipulado nunca chegará a ser uma realidade em sua vida. E se não chegar a ser uma realidade em sua vida, dificilmente chegará a ser uma realidade nas vidas dos membros de sua igreja.
Enquanto o pastor estiver assumindo funções que devem ser realizadas pelos demais membros do corpo de Cristo, dificilmente ele poderá promover o discipulado".
, exige tempo e disponibilidade. Se a agenda do pastor estiver abarrotada, como ele poderá se dispor para o discipulado?
Por incrível que pareça, em algumas igrejas ainda se acredita que só o pastor pode orar pelos enfermos, sabe expulsar demônios e sabe realizar cultos de aniversário, de formatura, sabe orientar pessoas para o batismo, sabe aconselhar etc. Pastor que funciona assim, está impedindo o crescimento dos demais.
Ele está usurpando a bênção de outros estarem servindo ao Senhor com seus dons e habilidades.
Quando um pastor ensina a sua Igreja a servir e equipa os santos para que eles desempenhem o seu serviço, então ele passa a ter mais tempo disponível para pastorear e discipular a sua liderança.
Por último, Discipular é uma ordem. Não fazer discípulos é uma desobediência, portanto um pecado. Mas, acima disto, discipular é um privilégio.
http://discipulosdejesuscristo.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Que fique bem claro (Tuco Egg)
A idéia de “amor ao trabalho” é filha da sociedade pós-industrial e capitalista. É antídoto fantasioso para um sistema de trabalho baseado na ideologia do consumo e, portanto, em um eficiente, inclemente e incansável sistema de produção. Se tudo fica melhor quanto maior o consumo, tudo fica melhor quanto maior a produção ou, em outras palavras, quanto mais tempo e dedicação sejam gastos no trabalho. Segundo essa ideologia, para alcançar o sucesso será preciso passar muito mais que as já cruéis 8h por dia trabalhando, enfrentar muitas horas de trânsito, sempre calçando um sapato sofisticado, duro e apertado, além de marcar reuniões motivacionais no sábado e atender ao chamado urgente daquele cliente poderoso no domingo. A única alternativa que resta para tentar manter um mínimo de sanidade nesse delírio, é enganar a si mesmo fazendo-se crer que ama essa loucura toda. Daí que nascem os bordões, os mantras dos livros de auto-ajuda, das convenções de fim de ano, das reuniões de planejamento e vendas. É crer nisso ou cortar os pulsos. Amar o trabalho é a última esperança do homem urbano.
Resta, como sempre, uma outra alternativa. Será obviamente preciso uma
boa dose de coragem e disposição para remar contra a maré e arcar com as
conseqüências. Abrir mão do sucesso
precisará ser o primeiro passo do bravo homem que decidir arrancar a
venda dos olhos. E será fundamental manter-se forte o suficiente para
viver com menos, talvez muito menos. Os demais passos serão todos
profundamente circunstanciais. Só será preciso manter em mente a frase –
eu não amo meu trabalho, portanto posso e devo trabalhar menos, muito
menos... o mínimo indispensável.
A esperança é que, com isso bem claro na mente, ainda seja possível desfrutar alegremente de longas horas com coisinhas banais como esposa e filhos. Quem sabe até com o vizinho, aquela tia doente que você não vê há anos, seu amigo depressivo ou aquele outro eufórico demais. Talvez seja possível visitar algumas pessoas e, levando um pacote de pão, compartilhar café e um bom papo.
Quem sabe até seja possível amar alguém e não algo.
http://atrilha.blogspot.com/2010/04/que-fique-bem-claro.html
A esperança é que, com isso bem claro na mente, ainda seja possível desfrutar alegremente de longas horas com coisinhas banais como esposa e filhos. Quem sabe até com o vizinho, aquela tia doente que você não vê há anos, seu amigo depressivo ou aquele outro eufórico demais. Talvez seja possível visitar algumas pessoas e, levando um pacote de pão, compartilhar café e um bom papo.
Quem sabe até seja possível amar alguém e não algo.
http://atrilha.blogspot.com/2010/04/que-fique-bem-claro.html
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