quarta-feira, 18 de abril de 2012

Moe e sua lasanha...

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Carlton Hayes, um atleta magnificamente talhado aos vinte e poucos anos, de altura e 84 kilos, pula numa cama elástica com o brilho irresistível de um sorriso. Uma multidão se ajunta. Ele passa a pular corda - uma amostra deslumbrante de coordenação, agilidade e graça. Os espectadores dão vivas. "Louvado seja o Senhor", grita o atleta.

Enquanto isso, Moe, um de seus ajudantes, se aproxima com uma garrafa de água. Moe tem pouco mais de cinquenta anos, tem 1,62 de altura e é barrigudo. Usa um terno amarrotado, camisa com o colarinho aberto, gravata fora do lugar. Moe tem uma pequena faixa de cabelo emaranhado e ensebado, que vai das têmporas até a parte de trás da cabeça, onde desaparece num grumo de cabelo mais preto, meio cinza. O pequeno ajudante está com a barba por fazer. Suas bochechas gordas e caídas, e um olho de vidro fazem os olhos dos expectadores se desviarem rapídamente.

- É um bronco patético - diz um homem.
- Apenas um parasita obsequioso, sugando um artista - acrescenta outro.

Moe não é uma coisa nem outra. Seu coração está enterrado em Cristo, no amor do Pai. Ele se move sem constrangimentos no meio da multidão e entrega graciosamente a água para o herói. Ele se sente ajustado, como uma luva na mão, ao seu papel de servo (foi assim que Jesus se manifestou pela primeira vez a Moe e transformou sua vida). Moe se sente seguro consigo.

Naquela noite, Carlton Hayes faria o discurso principal no banquete da Associação dos Atltas Cristãos, vindos de toda parte dos Estados Unidos. Além disso, seria homenageado com uma taça de cristal, por ser o primeiro atleta a ganhar oito medalhas olímpicas.

Cinco mil pessoas se reuniram no hotel Ritz-Carlton. Celebridades do mundo da política, dos esportes e da mídia estão espalhadas por todo o salão. Quando Hayes se dirige ao pódio, a multidão está quase no fim de uma refeição suntuosa. O discurso do orador é abundante em referências ao poder de Cristo e à imperturbável gratidão a Deus. Corações são tocados, homens e mulheres choram livremente e, então, ovacionam em pé.

Mas, por trás desse cintilante discurso, o olhar vago de Carlton revela que suas palavras não habitam sua alma. O estrelato corroeu sua presença junto a Jesus. A intimidade com Deus se esvaneceu na distância. O sussurrar do Espírito foi abafado pelo aplauso ensurdecedor.

Sustentado pelo sucesso e pelo rugido da multidão, o herói olímpico move-se facilmente de uma mesa a outra. Ele se engraça com todos, desde os garçons até as estrelas de cinema. Ao mesmo tempo, num hotel barato, Moe come sozinho sua quentinha congelada. Não foi convidado para o banquete no Ritz-Carlton porque, ele simplesmente não se encaixaria ali. É claro que não seria adequado para um ajudante bronco, com barriga de bujão e um olho de vidro puxar uma cadeira ao lado de pessoas como Ronald Reagan, Charlton Heston e Arnold Schwarzenegger.

Moe senta-se à mesa de seu quarto e fecha os olhos. O amor do Cristo crucificado o invade. Seus olhos se enchem de lágrimas. "Obrigado Jesus", sussurra, enquanto retira a cobertura plástica da lasanha esquentada no microondas. Ele folheia sua Bíblia até o salmo 23.
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Extraído do Livro "O impostor que vive em mim" de Brennan Manning.